sexta-feira, 21 de maio de 2010

Sobre um dos melhores escritores que eu conheci

Talvez eu fique sempre um pouco chateada porque ele escreve muito bem, mas acontece. Umas você ganha, outras você perde. E eu não queria ter rimado. Enfim, o que eu quero fazer aqui é talvez uma leve propaganda e uma tentativa de homenagem, querido Vagabundo. Vagabundo, sim, porque passa tempos sem escrever nada e depois volta com umas coisas fantásticas. Eu queria ter tudo o que tu escreveu a mão, para poder fazer um Top Sei-lá-quanto de tudo o que é seu. Mas, provavelmente, eu não conseguiria. Você erra. Você erra muito, às vezes, porque tu ainda é teena(ngel)ger, e ainda tem muito pra aprender. Eu também, eu sei, mas isso aqui é sobre vossemecê e não sobre mim. Eu não gosto quando tu erra - quando tu escreve algo que não parece ser do teu tipo, como aquela NejiKarin. Não era você, ali. Estava estranha demais. Mas você acerta, quase sempre. Você acerta e é tão inevitável, isso, de me fazer chorar, ou rir, ou... enfim, me emocionar de qualquer maneira. São mais que palavras, são tantos significados que chega a doer. Até quando você acha que está ruim, tem alguém para te elogiar. Porque não está ruim, Vagabundo. Está bom, está muito bom. Não são só palavras, e aí, apesar de eu amar o Graciliano, chega o ponto em que eu discordo. Não é seco - dá certo com ele, porque ele é o cara, mas não dá certo com você. Você é rodeio, sim. É descrição, é metáfora, é metonímia, é prosopopéia. Tu é isso, tu é todo aquele caderninho de figuras de linguagem que o Alzitônio nos deu. É por isso que tu é bom. Porque simplesmente... funciona. E, de uma forma, fico feliz que tu tenha resolvido ser jornalista, mas é melhor que tu fique escrevendo ainda umas historinhas para mim, coisas felizes e não só notícias trágicas que leremos daqui a alguns anos. Ou então, vira da Superinteressante, como tu tinha dito, e vai nos divertir. Daí eu vou olhar para o "Lucas Cordeiro" minúsculo na página e pensar que ele foi Mr. Montagh, que a primeira fic postada foi uma de Eragon com a Morg-Gwan, que eu e a Stefany o pressionamos para fazer uma cena de beijo, hahaha. E teve a fic com o Albus Severus... Enfim. Só para te falar isso. Que escritor bom, nem sempre é escritor morto, hahaha. Pra tu se lembrar de mim, num vago dia de vagabundagem. Viva bem. Feliz aniversário atrasado. Como disse Pink Floyd: You'll never gonna die. (não para mim) Da Lagartixa, para o seu Vagabundo.

A concisão de Graciliano Ramos e a literariedade

Graciliano, autor de romances como Caetés, Memórias do CárcereVidas Secas e S. Bernardo, comparava o ato de escrever ao trabalho das lavadeira do Alagoas. Elas primeiro enxaguavam o tecido, depois torciam com toda força, depois batiam a roupa na pedra e então torciam-na de novo e de novo, até que nenhuma gota caísse.

O autor faz o mesmo com seus livros. Escreve-os várias vezes para que possa tirar qualquer palavra em excesso. Diz ele: "A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer". Graças a essa opinião, sua narrativa é limpa, sóbria, mas sem ser entediante.

O mais incrível do autor é a união de conceitos que antes pareciam completamente opostos; temos o clássico uso simultâneo da denúncia social e da exploração psicológica, em que foi considerado o melhor entre os escritores de sua época. Outro tipo de união que acontece e é surpreendente é a presença de linguagem poética e literária, mesmo com tamanho critério quanto ao uso de adjetivos, advérbios e outras palavras que não são essenciais no texto.

Não é todo escritor que consegue equilibrar esse dois lados, entretanto. Há muitos que valorizam bastante as metáforas e as palavras bem escolhidas, às vezes catadas no dicionário com certa dificuldade. O autor, assim, valoriza a forma, como faziam os parnasianos, e acaba não se preocupando com o conteúdo; mesmo quando o conteúdo é bom, fica difícil para o leitor apreendê-lo no meio de tantos preciosismos e figuras de linguagem exageradas.

Já outros pendem para a preocupação apenas com o que querem passar, e a mensagem vira somente referente. O texto se torna seco, sem graça e os leitores (que esperavam um texto artistico) acabam abandonando a leitura, mesmo que o conteúdo os interessasse.

O autor alagoano, mesmo pendendo mais para o lado dos que prezam o conteúdo, não deixa de trabalhar a linguagem literária em seus livros; de forma diferente no entanto. Em vez de usar dispendiosas (em termo de palavras) metáforas e comparações, ele faz o uso da metonímia, principalmente em Vidas Secas.

Na metáfora, a realidade é comparada ou trocada por algo fora dela, o que parece ser, para o autor, um recurso inadequado num livro que pretende mostrar a vida dura dos personagens exatamente do jeito que é. Os próprios personagens têm dificuldades em construir construir esse recurso linguístico. Sinhá Vitória, por exemplo, se envergonha da comparação que faz do próprio pé com a pata de um papagaio, acha estranho.

Na metonímia, entretanto, apenas troca-se um termo da realidade por outro com que tem relação lógica. Às vezes, em vez dos objetos inteiros, Graciliano usa apenas partes deles, talvez como forma de se aproximar da realidade dos personagens. Em outra passagem de Vidas Secas, Fabiano vê apenas manchas verdes em vez de árvores, já que ele tem muitas outras preocupações. Calor, sede, fome entre outros não fazem da visão da paisagem sua prioridade.

Por trocar realidade por realidade, a metonímia não tira o aspecto verossímil e cru das histórias, e é por isso frequentemente usada pelo autor em seus livros.

No início do romance S. Bernardo, o personagem principal encarrega Gondim de escrever o livro de memórias para ele. Ao ler o que o jornalista escrevera até ali, reclama:


"— Vá para o inferno, Gondim. Você acanalhou o troço. Está pernóstico, está safado, está idiota. Há lá ninguém que fale dessa forma!


Azevedo Gondim apagou o sorriso, engoliu em seco, apanhou os cacos da sua pequenina vaidade e replicou amuado que um artista não pode escrever como fala.


— Não pode? perguntei com assombro. E por quê?


Azevedo Gondim respondeu que não pode porque não pode.


— Foi assim que sempre se fez. A literatura é a literatura, seu Paulo. A gente discute, briga, trata de negócios naturalmente, mas arranjar palavras com tinta é outra coisa. Se eu fosse escrever como falo, ninguém me lia."



E, você, jovem padawan escritor, para que lado pende?

Assassinado por Vagabundo.