segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Oblíqua e dissimulada

Milhares de sonhos feitos em pequenos pedaços por causa de uma pequena traição. Traição! Que traição? Já nem sei se posso confiar em mim ou nele, sei que sou eu quem sabe a verdade, mas qual a verdade? A verdade depende dos olhos de quem vê, e meus olhos são turvos e nebulosos, são nuvens que anunciam uma turbulência no céu. Qual a verdade? De quem é meu bebê? As mãos de Bentinho me tocam toda a noite e eu lembro do muro, Bento Capitolina, Bentinho e Capitu, Santiago e Pádua. Somos unidos demais, somos um só. Não seria ele quem me traiu? A mão de Sancha...! Ou com Escobar, ainda! Por que Escobar merecia tanto seu apreço? Será que eu o trai com Sancha? Sancha, minha amiga, tão bonita...! Quem traiu quem? De quem é a verdade? Sei que existe algo dentro de mim onde eu sempre poderei buscar o que é real e me agarrar a essa tal realidade, mas eu não consigo encontrar isso. Onde está a verdade, por trás dos meus olhos? Pedi a milhares de ciganas para lerem minhas mãos, mas nenhuma consegue desviar os olhos da minha íris! Qual a verdade, qual a verdade?! A verdade é que nunca saberemos o que aconteceu - morri antes que pudesse encontrar a resposta.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Da arte de quebrar Ovos

A Ave sai do Ovo com majestade, suas asas se expandindo por todo o espaço ao redor, porque sua liberdade o universo concreto não pode conter. Ele ergue a visão profunda e o bico se abre para uma primeira lufada de ar. O Pássaro se dissolve em si mesmo e o mundo se dissolve nele, porque o mundo não consegue conter a ideia de pássaro e então ele é diluído na imensidão da liberdade da Ave infinita.


Ele estende uma pata e pisa sobre a casca branca. Ela quebra com facilidade. A realidade concreta é tão frágil quanto uma casca de ovo, e então ele leva o outro limbo para fora do Ovo e quebra sua estrutura imortal, atemporal e quebradiça. O Ovo fica lá, estendido, enquanto o Pássaro não precisa nem levantar voo — ele é o voo, o ar.

Quando o Pássaro se liberta do Ovo, tudo é arte. O Pássaro se dilui nos sentidos dos seres que sentem e nas mentes dos seres que pensam. O Pássaro nos lembra do Ovo, mas o Ovo através do Pássaro é infinitamente mais belo. O Ovo não é goro, o Ovo não é feio, o Ovo não é imoral.

O problema do Ovo é o de ser a prisão do Pássaro. Quando vemos o Ovo, ficamos no Ovo. Quando vemos o Pássaro, voamos com ele.

O Pássaro nem existe. O Pássaro a gente só dilui. O Pássaro dilui-se em nossos corpos e universos e quando vemos ele já está botando Ovos em nossas línguas, mas os Pássaros desses Ovos saberão que, para nascer, hão de se destruir. Hão de renascer, hão de se quebrar para se libertar em um esplendor de luzes-tudo e palavras-pássaro.

Podemos ver que a arte está no Pássaro. Arte, arte mesmo, é quebrar Ovos.
 
Assassinado por Vagabundo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Ultraromoderno

AMOR, AMOR, AMOR! Amor em Roma. Zum, zum, zum. (motos zunindo para lá e para cá) Lálálálá! Muita música aqui, muita música lá! (seu quarto tem um piano e eu não me canso de ouvi-lo) Roma desperta no amor. Meu amor desperta em Roma! (você me olha e a fumaça do cigarro parece rodopiar sobre nós dois) E é um grande TAPTAPTAP dos nossos pés batendo nas ruas! Ruas de Roma! (eu puxo o cigarro dos teus lábios) E a gente olha e pensa, "NOSSA, DEUS!", Deus, Deus, amor, amor, será que Ele brigaria? (e eu te beijo) Brigaria por ser tão-tão errado, hahaha, nem ligo, nem me importo, Roma é amor! (e há um barulho) BANG, BANG, BANG! Tiros em Roma. (e há sangue) Tiros, meu amor, tiros! Roma, amor, Roma, amor. (e é o seu fim) SNAAAAAAAAAAC! faz a navalha no meu pulso, amor, amor! Roma, estou indo! (e o meu também) Assassinado por Lagartixa.