sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

"Modinha" literária: Imaginação Coletiva ou Plágio Descarado?

Há muito escreve-se sobre vampiros.

Desde as lendas antigas na Babilônia, desde Lord Byron... A lenda se renova, se transforma. E, quando menos esperamos, nem reconhecemos mais as criaturas que estão nas prateleiras das livrarias.

Esses sanguessugas são seres que com certeza podem ser considerados parte do Imaginário Coletivo da sociedade. Quem os inventou? Quem detém os direitos sobre eles? Todos os livros de vampiro criados são plágios de Drácula, de Bram Stoker?

A resposta, claro, é não.


O limite

Quando se escreve algo, o mínimo que se espera é originalidade e criatividade que, para mim, é juntar coisas velhas de formas novas.

Porque, afinal, não dá pra inventar nada. Os conceitos, ideias, características, poderes, limitações... tudo é apenas reusado — a arte de um bom autor é saber fazer isso sem que fique tão óbvio.

O tempo é um dos fatores fundamentais na análise da originalidade de um autor ou de uma obra. Há uma grande diferença entre usar a fada madrinha da Cinderela e os bruxos de Harry Potter.

No entanto, algumas vezes esse limite é tênue demais.

Se alguém escreve uma história envolvendo elfos belos e imortais, com o papel de conselheiros e sábios na história, estará necessariamente copiando Tolkien?

Mesmo quem nunca leu Senhor dos Anéis (e suas numerosas sub-histórias) tem em sua mente a imagem de elfos como seres altivos, arqueiros habilidosos, com falas enigmáticas... É que estamos constantemente sob a influência de mídias e recebendo informações sem nem mesmo perceber. O mundo está envolto pela imagem do elfo como em Tolkien, com as orelhas pontudas. Se você usar essa imagem (e encerrarem-se por aí as coincidências com Senhor dos Anéis, é claro), provavelmente ninguém irá reclamar, mas a experiência de renovar uma lenda é bastante engrandecedora. A recriação ou remodelagem é extremamente apreciada como habilidade literária, mas a resposta do público, é claro, dependerá do que você irá fazer com a sua "nova" criatura.

Vampiros que brilham no sol, por exemplo, podem não ser uma boa ideia.

Mas do que eu queria mesmo falar é dessas ondas temáticas que hoje-em-dia vêm acometendo a literatura infanto-juvenil. Começando com os livros de vampiro que aproveitaram a onda de crianças e adolescentes conquistados pelos vampiros "vegetarianos" de Crepúsculo aos anjos que dominam as prateleiras atualmente.

Após o lançamento dos livros da Stephenie Meyer, começou uma avalanche de títulos lançados, relançados, traduzidos ou re-encapados. E grande parte deles foi escrito por saber que livros de vampiro estavam fazendo sucesso e que provavelmente seriam mais facilmente aceitos por alguma editora.

Ok, nem todo mundo gosta de livros escritos por interesse no dinheiro. Mas a questão é que estamos num país capitalista e se é pra ganhar dinheiro sem matar ninguém (só lavar o cérebro de alguns jovens), vamos nessa.


A parte ruim

Mas aí você pensa... E se eu quisesse escrever um livro de vampiros na época do boom? Só porque eu gosto, ou porque eu tive uma ideia de história que dá certo com vampiros... Será que eu teria completa liberdade? Será que iriam julgar meu livro? Será que a editora iria querer uma capa parecida com a de Crepúsculo nele e colocar uma citação como resumo na contracapa?

É, meus amigos, a vida é difícil.

Existe o caso, por exemplo, da nossa amiga Lagartixa que desde sei lá quantos anos de idade pensava num enredo com mitologia grega e, se ela escrevesse sua história agora, provavelmente seria taxada como plagiadora de Percy Jackson.

Não por mim. Eu leria o livro com todo o prazer.

Mas, enfim. Depois de um longo post o que eu quero dizer é: até onde é bonita a união entre as mentes de milhões de autores ao redor do mundo, compartilhando as mesmas ideias, e até onde é ruim o uso dos mesmos formatos e das mesmas criaturas?

Será que todo autor tem a obrigação de repensar toda a sua história para que tenha certeza de que está acrescentando algo ao mundo?

Assassinado por Vagabundo

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Sobre um dos melhores escritores que eu conheci

Talvez eu fique sempre um pouco chateada porque ele escreve muito bem, mas acontece. Umas você ganha, outras você perde. E eu não queria ter rimado. Enfim, o que eu quero fazer aqui é talvez uma leve propaganda e uma tentativa de homenagem, querido Vagabundo. Vagabundo, sim, porque passa tempos sem escrever nada e depois volta com umas coisas fantásticas. Eu queria ter tudo o que tu escreveu a mão, para poder fazer um Top Sei-lá-quanto de tudo o que é seu. Mas, provavelmente, eu não conseguiria. Você erra. Você erra muito, às vezes, porque tu ainda é teena(ngel)ger, e ainda tem muito pra aprender. Eu também, eu sei, mas isso aqui é sobre vossemecê e não sobre mim. Eu não gosto quando tu erra - quando tu escreve algo que não parece ser do teu tipo, como aquela NejiKarin. Não era você, ali. Estava estranha demais. Mas você acerta, quase sempre. Você acerta e é tão inevitável, isso, de me fazer chorar, ou rir, ou... enfim, me emocionar de qualquer maneira. São mais que palavras, são tantos significados que chega a doer. Até quando você acha que está ruim, tem alguém para te elogiar. Porque não está ruim, Vagabundo. Está bom, está muito bom. Não são só palavras, e aí, apesar de eu amar o Graciliano, chega o ponto em que eu discordo. Não é seco - dá certo com ele, porque ele é o cara, mas não dá certo com você. Você é rodeio, sim. É descrição, é metáfora, é metonímia, é prosopopéia. Tu é isso, tu é todo aquele caderninho de figuras de linguagem que o Alzitônio nos deu. É por isso que tu é bom. Porque simplesmente... funciona. E, de uma forma, fico feliz que tu tenha resolvido ser jornalista, mas é melhor que tu fique escrevendo ainda umas historinhas para mim, coisas felizes e não só notícias trágicas que leremos daqui a alguns anos. Ou então, vira da Superinteressante, como tu tinha dito, e vai nos divertir. Daí eu vou olhar para o "Lucas Cordeiro" minúsculo na página e pensar que ele foi Mr. Montagh, que a primeira fic postada foi uma de Eragon com a Morg-Gwan, que eu e a Stefany o pressionamos para fazer uma cena de beijo, hahaha. E teve a fic com o Albus Severus... Enfim. Só para te falar isso. Que escritor bom, nem sempre é escritor morto, hahaha. Pra tu se lembrar de mim, num vago dia de vagabundagem. Viva bem. Feliz aniversário atrasado. Como disse Pink Floyd: You'll never gonna die. (não para mim) Da Lagartixa, para o seu Vagabundo.

A concisão de Graciliano Ramos e a literariedade

Graciliano, autor de romances como Caetés, Memórias do CárcereVidas Secas e S. Bernardo, comparava o ato de escrever ao trabalho das lavadeira do Alagoas. Elas primeiro enxaguavam o tecido, depois torciam com toda força, depois batiam a roupa na pedra e então torciam-na de novo e de novo, até que nenhuma gota caísse.

O autor faz o mesmo com seus livros. Escreve-os várias vezes para que possa tirar qualquer palavra em excesso. Diz ele: "A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer". Graças a essa opinião, sua narrativa é limpa, sóbria, mas sem ser entediante.

O mais incrível do autor é a união de conceitos que antes pareciam completamente opostos; temos o clássico uso simultâneo da denúncia social e da exploração psicológica, em que foi considerado o melhor entre os escritores de sua época. Outro tipo de união que acontece e é surpreendente é a presença de linguagem poética e literária, mesmo com tamanho critério quanto ao uso de adjetivos, advérbios e outras palavras que não são essenciais no texto.

Não é todo escritor que consegue equilibrar esse dois lados, entretanto. Há muitos que valorizam bastante as metáforas e as palavras bem escolhidas, às vezes catadas no dicionário com certa dificuldade. O autor, assim, valoriza a forma, como faziam os parnasianos, e acaba não se preocupando com o conteúdo; mesmo quando o conteúdo é bom, fica difícil para o leitor apreendê-lo no meio de tantos preciosismos e figuras de linguagem exageradas.

Já outros pendem para a preocupação apenas com o que querem passar, e a mensagem vira somente referente. O texto se torna seco, sem graça e os leitores (que esperavam um texto artistico) acabam abandonando a leitura, mesmo que o conteúdo os interessasse.

O autor alagoano, mesmo pendendo mais para o lado dos que prezam o conteúdo, não deixa de trabalhar a linguagem literária em seus livros; de forma diferente no entanto. Em vez de usar dispendiosas (em termo de palavras) metáforas e comparações, ele faz o uso da metonímia, principalmente em Vidas Secas.

Na metáfora, a realidade é comparada ou trocada por algo fora dela, o que parece ser, para o autor, um recurso inadequado num livro que pretende mostrar a vida dura dos personagens exatamente do jeito que é. Os próprios personagens têm dificuldades em construir construir esse recurso linguístico. Sinhá Vitória, por exemplo, se envergonha da comparação que faz do próprio pé com a pata de um papagaio, acha estranho.

Na metonímia, entretanto, apenas troca-se um termo da realidade por outro com que tem relação lógica. Às vezes, em vez dos objetos inteiros, Graciliano usa apenas partes deles, talvez como forma de se aproximar da realidade dos personagens. Em outra passagem de Vidas Secas, Fabiano vê apenas manchas verdes em vez de árvores, já que ele tem muitas outras preocupações. Calor, sede, fome entre outros não fazem da visão da paisagem sua prioridade.

Por trocar realidade por realidade, a metonímia não tira o aspecto verossímil e cru das histórias, e é por isso frequentemente usada pelo autor em seus livros.

No início do romance S. Bernardo, o personagem principal encarrega Gondim de escrever o livro de memórias para ele. Ao ler o que o jornalista escrevera até ali, reclama:


"— Vá para o inferno, Gondim. Você acanalhou o troço. Está pernóstico, está safado, está idiota. Há lá ninguém que fale dessa forma!


Azevedo Gondim apagou o sorriso, engoliu em seco, apanhou os cacos da sua pequenina vaidade e replicou amuado que um artista não pode escrever como fala.


— Não pode? perguntei com assombro. E por quê?


Azevedo Gondim respondeu que não pode porque não pode.


— Foi assim que sempre se fez. A literatura é a literatura, seu Paulo. A gente discute, briga, trata de negócios naturalmente, mas arranjar palavras com tinta é outra coisa. Se eu fosse escrever como falo, ninguém me lia."



E, você, jovem padawan escritor, para que lado pende?

Assassinado por Vagabundo.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Oblíqua e dissimulada

Milhares de sonhos feitos em pequenos pedaços por causa de uma pequena traição. Traição! Que traição? Já nem sei se posso confiar em mim ou nele, sei que sou eu quem sabe a verdade, mas qual a verdade? A verdade depende dos olhos de quem vê, e meus olhos são turvos e nebulosos, são nuvens que anunciam uma turbulência no céu. Qual a verdade? De quem é meu bebê? As mãos de Bentinho me tocam toda a noite e eu lembro do muro, Bento Capitolina, Bentinho e Capitu, Santiago e Pádua. Somos unidos demais, somos um só. Não seria ele quem me traiu? A mão de Sancha...! Ou com Escobar, ainda! Por que Escobar merecia tanto seu apreço? Será que eu o trai com Sancha? Sancha, minha amiga, tão bonita...! Quem traiu quem? De quem é a verdade? Sei que existe algo dentro de mim onde eu sempre poderei buscar o que é real e me agarrar a essa tal realidade, mas eu não consigo encontrar isso. Onde está a verdade, por trás dos meus olhos? Pedi a milhares de ciganas para lerem minhas mãos, mas nenhuma consegue desviar os olhos da minha íris! Qual a verdade, qual a verdade?! A verdade é que nunca saberemos o que aconteceu - morri antes que pudesse encontrar a resposta.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Da arte de quebrar Ovos

A Ave sai do Ovo com majestade, suas asas se expandindo por todo o espaço ao redor, porque sua liberdade o universo concreto não pode conter. Ele ergue a visão profunda e o bico se abre para uma primeira lufada de ar. O Pássaro se dissolve em si mesmo e o mundo se dissolve nele, porque o mundo não consegue conter a ideia de pássaro e então ele é diluído na imensidão da liberdade da Ave infinita.


Ele estende uma pata e pisa sobre a casca branca. Ela quebra com facilidade. A realidade concreta é tão frágil quanto uma casca de ovo, e então ele leva o outro limbo para fora do Ovo e quebra sua estrutura imortal, atemporal e quebradiça. O Ovo fica lá, estendido, enquanto o Pássaro não precisa nem levantar voo — ele é o voo, o ar.

Quando o Pássaro se liberta do Ovo, tudo é arte. O Pássaro se dilui nos sentidos dos seres que sentem e nas mentes dos seres que pensam. O Pássaro nos lembra do Ovo, mas o Ovo através do Pássaro é infinitamente mais belo. O Ovo não é goro, o Ovo não é feio, o Ovo não é imoral.

O problema do Ovo é o de ser a prisão do Pássaro. Quando vemos o Ovo, ficamos no Ovo. Quando vemos o Pássaro, voamos com ele.

O Pássaro nem existe. O Pássaro a gente só dilui. O Pássaro dilui-se em nossos corpos e universos e quando vemos ele já está botando Ovos em nossas línguas, mas os Pássaros desses Ovos saberão que, para nascer, hão de se destruir. Hão de renascer, hão de se quebrar para se libertar em um esplendor de luzes-tudo e palavras-pássaro.

Podemos ver que a arte está no Pássaro. Arte, arte mesmo, é quebrar Ovos.
 
Assassinado por Vagabundo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Ultraromoderno

AMOR, AMOR, AMOR! Amor em Roma. Zum, zum, zum. (motos zunindo para lá e para cá) Lálálálá! Muita música aqui, muita música lá! (seu quarto tem um piano e eu não me canso de ouvi-lo) Roma desperta no amor. Meu amor desperta em Roma! (você me olha e a fumaça do cigarro parece rodopiar sobre nós dois) E é um grande TAPTAPTAP dos nossos pés batendo nas ruas! Ruas de Roma! (eu puxo o cigarro dos teus lábios) E a gente olha e pensa, "NOSSA, DEUS!", Deus, Deus, amor, amor, será que Ele brigaria? (e eu te beijo) Brigaria por ser tão-tão errado, hahaha, nem ligo, nem me importo, Roma é amor! (e há um barulho) BANG, BANG, BANG! Tiros em Roma. (e há sangue) Tiros, meu amor, tiros! Roma, amor, Roma, amor. (e é o seu fim) SNAAAAAAAAAAC! faz a navalha no meu pulso, amor, amor! Roma, estou indo! (e o meu também) Assassinado por Lagartixa.